Quem é o nosso pior inimigo?

Na Porção da Torá desta semana, Ki Tavo כִּי־תָבוֹא (Quando Vieres), baseada em Deuteronômio 26:01-29:08, somos lembrados de servir Adonai com alegria em tempos de abundância. Somos instruídos a não esquecer Suas bênçãos para que não comecemos a ignorar Suas leis e sucumbir a desastres. As primeiras frases nos falam sobre produzir nossas primícias e apresentá-las diante de Elohim de forma ritualística, para que nos lembremos de que fomos escravos no Egito (para os cristãos, lembramos que fomos escravos do mundo e do pecado). Quando não fazemos isso, começamos a pensar que todas essas bênçãos nos vieram por causa de nosso próprio trabalho e esforço. Esquecemos Adonai, nosso Deus, e transformamos as bênçãos em maldições. Ao negligenciar de onde viemos, quem nos livrou e por que somos abençoados, nos colocamos em perigo e nos tornamos amaldiçoados. A prática de Lhe entregar as primícias existe para nos impedir de pensar que somos invencíveis sem Ele. Essa linha de pensamento me traz estes versículos à mente:

"Que diremos, pois, diante dessas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou a seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará juntamente com ele, e de graça, todas as coisas? Quem fará alguma acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? Foi Cristo Jesus que morreu; e mais, que ressuscitou e está à direita de Deus, e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada?" Romanos 8:31-35

A resposta a todas essas perguntas é singular: nosso pior inimigo. Somente nosso pior inimigo pode nos separar do amor de Deus. Somente nosso pior inimigo pode ser contra nós. Somente nosso pior inimigo pode nos condenar. Quem seria esse pior inimigo? Não é Satanás nem ninguém no mundo. Nossos piores inimigos somos nós mesmos. Sim, isso mesmo. Só você pode ser seu pior inimigo quando Deus está com você. Isso porque Deus nos deu um dom chamado livre-arbítrio. Ele nos deu uma escolha e, com esse dom, corremos o risco de nos amaldiçoar. Nesta porção da Torá, nos é dada uma imagem vívida de como é esse perigo e suas consequências. Não é uma imagem bonita, e é por isso que as pessoas frequentemente evitam essa parte da Bíblia. De fato, é difícil de ler e até mesmo imaginar. Aqui está o ápice da trágica ilustração desses capítulos:

"Por causa do sofrimento que o seu inimigo lhes infligirá durante o cerco, vocês comerão o fruto do próprio ventre, a carne dos filhos e filhas que o Senhor, o seu Deus, lhes deu. Até mesmo o homem mais gentil e educado entre vocês não terá compaixão do seu irmão, da mulher que ama e dos filhos que sobreviverem, de modo que não dará a nenhum deles nenhum pedaço da carne dos seus filhos que estiver comendo, pois nada lhe sobrará devido aos sofrimentos que o seu inimigo lhe infligirá durante o cerco de todas as suas cidades. A mulher mais gentil e delicada entre vocês, tão delicada e gentil que não ousaria encostar no chão a sola do pé, será mesquinha com o marido a quem ama e com o filho e a filha, não lhes dando a placenta do ventre nem os filhos que gerar. Pois a sua intenção é comê-los secretamente durante o cerco e no sofrimento que o seu inimigo infligirá a você em suas cidades. Se vocês não seguirem fielmente todas as palavras desta lei, escritas neste livro, e não temerem este nome glorioso e terrível, o Senhor, o seu Deus," Deuteronômio 28:53-58

A desobediência à Torá, algo que encaramos tão levianamente hoje, trará tempos de tanto sofrimento que "os mais gentis" entre nós se tornarão canibais, comerão seus filhos e os esconderão de seus entes queridos, não por vergonha, mas porque não querem compartilhar. Certamente isso é uma alegoria e o SENHOR não está falando sério, certo? É difícil até imaginar um tempo assim na Terra, mas considere o que Yeshua (Jesus) disse sobre o fim dos tempos que ainda está por vir sobre a Terra:

"O irmão entregará à morte o seu irmão, e o pai o seu filho; filhos se rebelarão contra seus pais e os matarão. Todos odiarão vocês por minha causa, mas aquele que perseverar até o fim será salvo." Mateus 10:21,22

"Porque haverá então grande tribulação, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem jamais haverá. Se aqueles dias não fossem abreviados, ninguém sobreviveria; mas, por causa dos eleitos, aqueles dias serão abreviados." Mateus 24:21,22

Quando Jesus diz: "Haverá grande angústia e tribulação, sem igual desde o princípio do mundo até agora", você pode começar a imaginar tempos piores do que jamais houve na Terra. Considerando a miséria que vimos e registramos na história, como a peste bubônica em 1346, onde 75 a 200 milhões de pessoas morreram; a guerra e a gripe espanhola em 1918, onde 16 milhões morreram na guerra e outros 50 a 100 milhões morreram depois por causa da gripe; os horrores da Segunda Guerra Mundial, que incluiu tantas abominações de abuso humano e experimentos, incluindo o Holocausto; e até mesmo a Grande Depressão nos Estados Unidos de 1929, que levou à perda de inúmeras vidas devido à violência e à fome. Podemos realmente imaginar tempos piores do que estes? Bem, a Torá nos ajuda com detalhes vívidos de tempos que virão e que serão muito piores do que todos esses juntos. Tempos descritos nesta porção da Torá, em Mateus 24, e no livro do Apocalipse, onde lemos casualmente: "um terço da humanidade foi morta" (como em Apocalipse 9:18), sem perceber que isso equivale a pouco mais de 2 bilhões de pessoas, considerando a população mundial estimada hoje. Raramente lemos esses livros ou nos debruçamos sobre ele sem pensar, porque não queremos abrir os olhos ou porque achamos que não estaremos aqui. É melhor abrirmos os olhos, nos prepararmos e sermos obedientes para que sejamos poupados da ira de Deus.

O que me leva à revelação talvez mais perturbadora destes capítulos: Deus é quem trará este sofrimento à Terra. Durante a seção sobre maldições desta porção da Torá, vemos que o autor de toda esta calamidade é o próprio Adonai:

"Ele enviará pestes terríveis sobre vocês e sobre os seus descendentes, desgraças horríveis e prolongadas, doenças graves e persistentes. Ele trará sobre vocês todas as temíveis doenças do Egito, e vocês as contrairão. O SENHOR também fará vir sobre vocês todo tipo de enfermidade e desgraça não registradas neste Livro da Lei, até que sejam destruídos." Deuteronômio 28:59-61

A ira é a indignação justa. Quando a misericórdia de Deus chega ao fim, a balança se equilibrará.

Ao escolhermos as maldições, nos transformamos em nossos piores inimigos, porque nos tornamos inimigos de Deus. Se Deus está contra você, quem o livrará da Sua ira? Quando enfrentamos um inimigo formidável, podemos nos voltar para o nosso Deus, que é o Mais Poderoso de todos os "deuses", e Ele nos livrará. Mas a quem podemos recorrer quando Deus é nosso inimigo (ou quando nos tornamos Seus inimigos por escolha própria)? Não há salvação para aqueles que se rebelam contra o Todo-Poderoso:

"Contudo, por causa da sua teimosia e do seu coração obstinado, você está acumulando ira contra si mesmo, para o dia da ira de Deus, quando se revelará o seu justo julgamento. Deus 'retribuirá a cada um conforme o seu procedimento'. Ele dará vida eterna aos que, persistindo em fazer o bem, buscam glória, honra e imortalidade. Mas haverá ira e indignação para os que são egoístas, que rejeitam a verdade e seguem a injustiça. Haverá tribulação e angústia para todo ser humano que pratica o mal: primeiro para o judeu, depois para o grego; mas glória, honra e paz para todo o que pratica o bem: primeiro para o judeu, depois para o grego. Pois em Deus não há parcialidade." Romanos 2:5-11

Lembre-se de que a palavra ira significa "raiva justa", e Deus está julgando com justiça quando finalmente derrama Sua ira sobre a Terra. Portanto, concluo com as mesmas palavras de afirmação que Moisés nos deu no final desta seção:

"Hoje invoco os céus e a terra como testemunhas contra vocês, de que coloquei diante de vocês a vida e a morte, a bênção e a maldição. Agora escolham a vida, para que vocês e os seus filhos vivam, e para que vocês amem o Senhor, o seu Deus, ouçam a sua voz e se apeguem firmemente a ele. Pois o Senhor é a sua vida, e ele lhes dará muitos anos na terra que jurou dar aos seus antepassados, Abraão, Isaque e Jacó." Deuteronômio 30:19,20

O livre-arbítrio é uma dádiva, mas a escolha traz consequências. Oro para que escolham a sabedoria e escolham viver de acordo com os Seus ensinamentos, para que a bênção flua e vocês sejam poupados da Sua ira que está prestes a cair sobre a Terra. Shalom Ve'Shavuah Tov! Amo todos vocês.